Falta de moedas estimula práticas como dar bala de troco ou arredondar preço para cima. O problema é a cultura de desprezo aos centavos

É dia de compras. Você vai até o supermercado, seleciona todos os produtos necessários, chega ao caixa para pagar e a operadora lhe anuncia o valor: R$99,97. A atitude provável de qualquer pessoa: entregar à funcionária duas notas de R$50,00. Reação mais comum em quase todos os supermercados do Brasil: receber uma bala de troco. Estranho? Nem tanto. A substituição de moedas de um centavo por outras mercadorias já se tornou corriqueira no comércio de todo o país. O problema é que essa prática está se tornando um vício difícil de ser combatido.

O consumidor pode até se sentir prejudicado quando o troco não lhe é entregue, mas está longe de fazer valer esse direito. Segundo levantamento feito no ano passado pelo Banco Central, entre 2010 e 2013, caiu de 4,69% para 4,66% o porcentual de brasileiros que exigem troco correto, mesmo que seja um valor pequeno.

Fracionar os preços é uma das estratégias utilizadas pelos comerciantes para atrair a clientela. Hoje, essa é uma cultura de varejo, que serve para beneficiar os donos e prejudicar o consumidor. Geralmente, quem pede o troco corre o risco de enfrentar o julgamento do caixa e de outros clientes. Recusar as famosas balinhas pode ser um atestado de vergonha, inadmissível, claro. Suprimir o troco ao consumidor é ilegal, conforme explica o advogado do escritório Guedes, de Passo Fundo, Franchesco Maraschin de Freitas. “Não há justificativa sobre a ausência de moedas no mercado, pois o próprio Banco Central disponibiliza nas agências do Banco do Brasil guichês para fornecimento de troco (moedas, notas de dois e cinco reais), independentemente de agendamento de horário,” salienta.

O Código ampara

O Código de Defesa do Consumidor é claro: o consumidor não pode sair em desvantagem. Então, se o comerciante tem que devolver R$ 0,02 de troco, mas não possui esse valor fracionado, ele terá que te fornecer R$0,05 ou qualquer valor que supra esse dever legal. Nunca deve ser arredondado para menos. É direito seu, e você precisa exigir.